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Não ir a Paris jogar as Olimpiadas é o menor dos problemas para o futebol brasileiro. No mundo real de um país que não ganha uma Copa do Mundo há 22 anos, pode ser considerado até fato irrelevante. Como dosagem de humilhação, um troco.
Procuram-se culpados.
Não estou entre aqueles que atribuem a responsabilidade desses fracassos somente aos desvios de conduta por ações pessoais (e aí inclui-se a falta de capacidade) de quem dirigiu e dirige a CBF, protegidos por presidentes das federações estaduais, essas uma praga.
O problema do futebol brasileiro é bem mais grave.
A sua autodestruição começou a ser processada com a Lei Pelé. Não a lei em si, porque “nunca se deve culpar uma lei”, ensinava o saudoso professor René Dotti. Em especial, no caso, uma lei que surgiu para romper o vínculo que existia entre o jogador e o clube imposto por uma ordem jurídica que estabelecia um regime de servidão.
A execução da Lei Pelé é que foi desvirtuada. Os direitos de transferência que eram do clube e seriam deslocados para a esfera patrimonial do jogador, foram surrupiadas pelos agentes.
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Os clubes desestruturados não tiveram condições de enfrentar esse sistema. Para não aumentarem as perdas desses ativos, associaram-se a ele de forma escancarada.
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Os agentes, em uma verdadeira associação criminosa com muitos cartolas, construíram um monópolio dentro do mercado de jogadores. A formação do jovem começou a ser picotada para que os negócios fossem apressados, desprezando os objetivos esportivos. O ideal do jovem foi destruído.
Não foi por coincidência que os efeitos da execução da Lei Pelé coincidiram com o último ciclo de craques de uma geração revelada por inteira. Foi a de 2002 de Cafu, Roberto Carlos, Roque Júnior, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e o maior de todos, Ronaldo Fenômeno.
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Nem nos seus piores ciclos, a esperança do futebol brasileiro resumiu-se em apenas um craque, há tempo desenganado por ele próprio, Neymar.
Os que surgem são eventuais, e precisam de um arremate europeu ainda quando crianças para alcançarem o estágio de extra. Vinicius Junior o alcançou, e Endrick e Vitor Roque irão alcançá-lo. Excluindo os três, todos estão sob suspeitas técnicas.
O problema mais grave é que o viveiro que produziu craques para cinco títulos mundiais há tempo entrou em colapso. Sem retrovisor para ver o passado, e sem perspectivas para o presente, a CBF e os clubes se uniram para massificar a contratação de jogadores estrangeiros. O limite que era de três, já é de sete. E irá aumentar.
O futebol que tinha autoridade técnica e moral para abrir o campo de trabalho só para craques como Pedro Rocha, Anchieta, Figueroa, Fillol, Roldopho Rodrigues, Ramos Delgado, Romerito, Petkovic, Gamarra e poucos outros, passando do limite, hoje aceita qualquer um.
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Hoje, mais 100 estrangeiros jogam no Brasil. À exceção de Gustavo Gómez (Palmeiras), Arrascaeta (Flamengo) e Esquivel (Athletico), todos são duvidosos.
A consequência é que estanca ou reduz a necessidade de formar nativos, alcançando em cheio o futebol brasileiro como valor cultura. Na última Copa São Paulo foi possível constatar o baixo nível técnico da base do nosso futebol.
Isso quer dizer que o futebol brasileiro não está só com um grave problema estrutural por má administração da CBF, embora essa já tenha alcançado o fundo do poço, e nada foi feito. Quando revelava craques, o Brasil ganhava títulos. A CBF só pagava a conta.
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