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Não ter entendido Kléber foi um dos meus erros da juventude. Queria dele a eficiência sóbria que se deve cobrar dos medíocres, não dos grandes artistas. Justo dele que fazia coisas de “sarapantar”.
Já percebia que era imprevisível como o personagem criado por Mário de Andrade e vivia entre a aguda perspicácia e uma perigosa irresponsabilidade, como quando renunciou ao gol no Atletiba para pegar a correntinha de ouro que lhe escapara do pescoço.
O Macunaíma da Baixada ia da mansidão à brutalidade como quando invadiu um dos gramados do CT de carro e deu zerinhos no círculo central. Depois pediu perdão e ficou tudo bem.
Kléber encarnava o conceito de “veneno-remédio”, dilema da modernidade nacional: se nos organizamos, não somos mais Brasil, mas se seguimos como somos, nunca nos organizaremos.
O atacante nascido em Peri-Mirim, no Maranhão, chegou ao clube em 1999 com muitos problemas dentários. Foi preciso trocar toda a “mobília” até que pudesse estrear. Tinha mais avós do que nós, pois usava seus enterros para justificar o atraso nas reapresentações.
Incendiava o estádio. Quando a bola o encontrava, abria-se uma janela ao infinito. Ninguém ficava indiferente ao terceiro maior goleador da história do clube, com um 124 gols em 185 jogos, e o maior da Baixada, com 67 gols. Em 2001, marcou 50 vezes e sua Chuteira de Ouro nos valeu o título.
O parceiro de Alex Mineiro ficou apenas 34 gols atrás de Sicupira, uma diferença que Kléber tiraria fácil em mais uma temporada ou se tivesse acertado metade dos pênaltis que perdeu e feito os gols que não fez depois de deixar o goleiro no chão.
Mas Kléber não se lamentava tal qual um ator canastrão quando a bola não entrava. Com certo desdém vilanesco, sabia que ela obedientemente logo voltaria aos seus pés. Para ele o difícil era fácil.
Se um dia não o compreendi, Kléber, foi porque era jovem e tolo. Você foi o jogador mais original e o atacante perigoso que minha geração pôde aplaudir.
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