O desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul impactou na produção de arroz, cereal que é base da alimentação brasileira. O estado sulista é responsável por 70% do cultivo nacional, o que impacta diretamente no abastecimento para todo o País.
Apesar de a falta do alimento ser uma possibilidade, os especialistas alertam que não é necessária uma corrida aos supermercados, porque a falta do cereal não será sentida em curto prazo.
Como medida de prevenção a possível falta do alimento no Brasil, o governo federal por meio do Ministério da Agricultura anunciou que decidiu importar até 1 milhão de toneladas de arroz a fim de evitar aumentos de preços resultantes de problemas no escoamento e perdas nas produções do cereal.
Em Campo Grande, uma parte da população foi às compras nesta quinta-feira (9) já em busca de fazer estoque do alimento. Devido ao aumento da procura, alguns supermercados já estão realizando a limitação da compra do produto.
O mestre em Economia Lucas Mikael destaca que ainda que a importação possa ajudar a estabilizar os preços e evitar aumentos excessivos devido à escassez, não é uma garantia.
“A vinda do item de outros paises pode ajudar a mitigar o risco de desabastecimento, mas não é uma segurança absoluta”, avalia.
Mikael pontua que fatores como a disponibilidade no mercado internacional, custos e logística associados à importação, e o tempo necessário para o processo devem ser considerados, pois influenciam diretamente na eficácia da ação.
O economista ainda salienta que o receio de falta de arroz devido à concentração da produção no Rio Grande do Sul é uma preocupação válida, mas que é importante analisar que outras regiões também produzem o cereal, embora em menor escala.
“Além disso, o mercado agrícola é dinâmico e os produtores tendem a se adaptar a condições adversas, buscando soluções para problemas de produção”, pondera.
O doutor em Economia Michel Constantino reitera que há possibilidade da falta do produto.
“Não é algo a curto prazo, desta forma não é necessário alarde”, afirma o economista que ainda acrescenta que a alteração no preço é eminente tendo em vista que se o maior produtor não oferta, falta arroz e o preço sobe.
O professor doutor em Administração Leandro Tortosa explica que a importação também pode mexer com os valores.
“Precisamos verificar como será feita a negociação, qual será o câmbio utilizado e as condições de pagamento, além da disponibilidade do produto nos fornecedores internacionais”, detalha.
Tortosa complementa que ao considerar tais fatores existe a tendência de aumento nos preços do cereal assim como em outras commodities que também foram afetadas como é o caso da soja e carne bovina.
Mikael acrescenta que ainda que a importação possa ajudar a estabilizar os preços e evitar aumentos excessivos devido à escassez, não é garantido que os preços permaneçam inalterados.
“A importação envolve custos adicionais, como tarifas, taxas alfandegárias e despesas de transporte, que podem influenciar o preço final dos alimentos importados. Além disso, a dinâmica do mercado e outros fatores econômicos podem afetar os preços, mesmo com a importação”.
Sobretudo o mestre em economia explica que a importação também pode ajudar a aumentar a oferta no mercado interno, o que pode exercer pressão para baixar os preços ou, pelo menos, evitar aumentos significativos.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontam que o preço médio do pacote com 5 kg de arroz já tem subido gradativamente.
Na comparação interanual a alta é de 25%, enquanto em abril do ano passado o custo médio era de R$ 23,55, no mês passado, os mesmos 5kg custavam R$ 29,45.
SOJA
Outro efeito já sentido pela economia sul-mato-grossense foi em relação aos preços da soja. Dados da Granos Corretora apontam que a saca com 60kg chegou a R$ 124 nesta quarta-feira (8), superando as expectativas baixistas, que indicavam que os preços não ultrapassariam a média de R$ 115 no Estado.
O Rio Grande do Sul é o terceiro no ranking nacional de produção de soja, e mesmo que áreas de lavouras não tenham sido atingidas pelas enchentes, o excesso de chuvas dos últimos dias provocou atraso na colheita. É o que explica o corretor que atua na comercialização de soja em oito cidades de Mato Grosso do Sul, Ronaldo Dávalo.
De acordo com Dávalo, esse é somente um dos fatores que provocaram a reação de preços na bolsa de Chicago.
“A greve de trabalhadores das indústrias que esmagam soja na Argentina e a estiagem no início do plantio da soja nos Estados Unidos são outros fatores que influenciaram as cotações mundiais”, detalha.
O corretor ainda explica que o aumento da última semana tende a ser passageiro sendo agora a hora de o produtor aproveitar o preço bom e esvaziar os silos.
Dados da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) apontam que 51,4% da produção da safra atual ainda está armazenada, visto que os produtores estavam à espera de preços mais vantajosos para a comercialização.
Já o boletim semanal divulgado pela Aprosoja-MS, na terça-feira (7), traz o preço médio das oito principais regiões produtoras do Estado, onde na última segunda-feira (6) a média ficou em R$ 120,50 com aumento de 4,9% entre os dias 29 de abril e 7 de maio. As melhores cotações foram identificadas em Dourados e Ponta Porã, com R$ 123,00.
Para efeito de comparação, as cotações da Granos Corretora, mostram que a saca já estava sendo cotada a R$ 124 na última terça-feira na região sul do Estado, o que evidenciou a manutenção da tendência de alta.
Ainda de acordo com os dados da Aprosoja-MS, em Mato Grosso do Sul, 99,6% das área semeada já foi colhida. Embora os números não estejam fechados, observou-se redução na produtividade.
A estimativa era de 54 sacas por hectare, mas o volume ficou em apenas 50,5 sacas, representando retração de 19,12% o que gera a expectativa de uma produção de 12,923 milhões de toneladas, uma redução de 13,89% quando comparada ao ciclo anterior, de 15 milhões de toneladas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimava antes das chuvas que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas do Rio Grande do Sul aumentaria 46,4% em 2024, na comparação com o ano passado, e passaria a representar 13,3% do total nacional.
O Rio Grande do Sul respondeu por 8,4% da produção nacional de soja no ano passado e, com o crescimento esperado para este ano, passaria a representar 14,8%, ficando atrás somente de Mato Grosso.
70% DA PRODUÇÃO BRASILEIRA
O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil. Sendo responsável por 70% da produção brasileira do cereal.
Editado por Roberta Cáceres com informações do Correio do Estado.